quarta-feira, 22 de maio de 2013

Tuĩ Kuru anihu xinã - Memória do velho Raimundo Luis Yawanawá



Sob a liderança de Raimundo Luis, o povo yawanawá viu o barracão ser substituído pelo shuhu, o patrão pelo cacique, o seringal pela terra demarcada. Hoje, a memória do velho vive na Terra Indígena Rio Gregório: aqueles que lhe chamavam epa, txata, kuka e txai se encontram para assistir às gravações dos seus shenipahu preferidos - as narrativas míticas do povo - imortalizados pela iniciativa da sua filha Maria Julia Kenemẽni, pesquisadora do PRODOCLIN Yawanawá.

      
Uma histórica cúpula de anciões e lideranças se reuniu na aldeia Mutum: as lideranças Mariazinha e Biraci, os pajés Tatá e Yawarani, velho Pereira e velho Pedro, os filhos de Tuĩ Kuru, Antônio Luis, Hushahu, Putani, Geraldina e Maria Julia, o irmão Jorge Luis, a esposa Maria. 


Sentados à beira de um igapó, lembraram momentos compartilhados com o velho, contaram anedotas e riram de antigas histórias.





"Quando ele fala no vídeo, ele está vivo." Isso quem falou foi a Runĩ, sentada no meu colo durante a exibição de uma das narrativas gravadas pela equipe do PRODOCLIN. Ela, que tem cinco aninhos, foi a penúltima filha do velho Tuĩ Kuru.


Encerramos a oficina com um dia de festa: Um café da manhã com exibição de histórias gravadas e uma apresentação de todos os desenhos produzidos. 




À noite, a comunidade realizou uma grande rodada de uni e mariri, cantando as canções tradicionais ensinadas pelo velho.


Livia Camargo
linguista, coordenadora do PRODOCLIN Yawanawá

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Um livro, uma homenagem


Era uma vez uma liderança indígena. Alguém que marcou a vida da sua comunidade. Uma pessoa sábia e sagaz. Uma pessoa que eu não conheci. E agora estamos aqui, no meio da floresta amazônica em um lugar lindo, para fazer um livro em homenagem a esse ancião.

Passamos por quase todas as aldeias Yawanawá convidando o pessoal. Viajamos pelo rio Gregório bem seco, uma aventura. Desde então estamos todos mobilizados, pesquisadores do Prodoclin e comunidade da aldeia Mutum por um objetivo comum: preparar o material para o livro em homenagem ao velho Raimundo Luis.

Livia Camargo coordenadora do Projeto está transcrevendo e traduzindo as histórias com as pessoas da comunidade, o pajé Tatá, o velho Pereira, Maria Julia, Mariazinha, Hushahu, Geralda, Tika Matxuru,  Nedina, Jorge Luis, Antonio Luis, Leda e Albeci. Enquanto isso eu coordeno a oficina de ilustração que estou ministrando em parceria com a Hushahu, a artista Yawanawá, já que sem ela não seria capaz de saber das minúcias dos desenhos de cada uma das histórias.




As dificuldades normais do campo: carregar equipamentos, organizar a comida da oficina, as chuvas que atrapalham o andamento normal dos trabalhos, tudo isso está sendo minimizado pelo esforço da liderança Maria Julia Yawanawá que se empenhou de todas as formas para que a oficina ocorresse e também para que os jovens se mobilizassem para ilustrar o livro. 





É cansativo, demorado e são muitos passos até conseguirmos fazer um livro, mas sei que a comunidade ficará emocionada ao receber este material, tanto quanto ficou quando começamos esta oficina, já que a presença de uma pessoa tão querida e especial através de um vídeo é muito marcante.

Assistimos os Shenipahu do Velho, desenhamos história por história, discutimos como vai ser o livro e a cada dia aprendo um pouquinho da cultura Yawanawá. Daqui há algum tempo, depois de algum trabalho, teremos o livro e os DVDs dessa história que vai ficar para as próximas gerações.

Agradeço por fazer parte desse projeto.

Ingrid Lemos

pesquisadora e doutoranda em Design PUC-Rio